Tenho um sobrinho que se formou em Oceanografia há menos de dois anos e já está abandonando a profissão. Descobriu, um pouco tardiamente, que não existe mercado de trabalho para oceanógrafos.
Desde que se formou, estava trabalhando longe da família e mal ganhando para pagar o próprio aluguel. Fazia um serviço de tabulação de dados com pescadores que poderia ser feito por um assistente social, um estatístico ou mesmo um estagiário, e recebendo um salário digno deste último.
A única ligação do serviço com a área que escolheu para a carreira é o ambiente de trabalho dos homens cujos dados coletava. Decepcionado, está decidindo entre várias outras carreiras a seguir. É jovem e ainda tem tempo para isso.
Ele me disse que, dos vinte colegas que se formaram com ele, só cinco estavam trabalhando em alguma função ligada à Oceanografia, e todos, como ele, ganhando salário miserável.
É uma pena, porque considero a Oceanografia uma das profissões do futuro. Oceanografia e Engenharia de Alimentos. Quando a coisa apertar, quando o ambiente se tornar irrespirável e a comida não der para todos, a Humanidade vai ser obrigada a procurar a alternativa oceânica e a produção de alimentos a partir de, quem sabe, plástico reciclado.
O Homem acha que a salvação está no espaço, mas se engana. Por que procurar condições de sobrevivência a uma distância que demandaria viagens de centenas de anos, quando o mar está aqui pertinho? Da minha casa, mesmo, basta caminhar quinhentos metros e eu já posso enfiar os pés no futuro! E outra: dois terços da superfície terrestre estão cobertos pelos oceanos; se levamos dois mil anos para destruir o ambiente sólido em que vivemos hoje, teríamos pelo menos o dobro disso para destruir o resto.
Em vez de sonhar em construir redomas para abrigar a população em Marte, por que não construí-las no fundo dos oceanos. Sairia muito mais barato, certamente. E muito mais acessível, porque – não se enganem! – só os muito ricos vão poder se valer da opção de continuar a vida em outro planeta. Ou os diletos leitores acham que um governo que não tem dinheiro para o programa Minha Casa, Minha Vida vai custear a viagem da classe baixa ao paraíso prometido?
O problema é que, desde Colombo e seu ovo em pé, as soluções mais óbvias parecem mais difíceis de ser encontradas. Vai chegar um dia em que a Humanidade vai se convencer de que a salvação está no mar, e aí vão sair correndo atrás de oceanógrafos para coordenar as pesquisas necessárias a criar o ‘planeta aquático’, que poderá até ser chamado de Atlântida, por que não?
Até lá, fica valendo a brincadeira que fiz com meu sobrinho, quando ele disse que tinha optado por Oceanografia porque queria ter um emprego à beira-mar, e eu sugeri que vendesse picolés na praia, porque daria mais dinheiro: como ele pôde perceber agora, eu tinha razão, infelizmente!
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